9 de abril de 2012

NOAH



Depois de vencer o prêmio de direção no Festival de Sundance pelo excepcional Pi (idem) e de Requiem para um Sonho (requiem for a dream) tornar-se um fenômeno cult nas videlocadoras, Darren Aronofsky tomou a decisão de dar um passo mais ousado.

Fonte da Vida (the fountain) seria uma obra pessoal bastante introspectiva. Uma espécie de fábula filosófoca. O orçamento inicial estipulado em 70 milhões dólares foi cortado pela metade, mas o fracasso nas bilheterias não se deve a isso. Apesar da beleza das imagens e das ambições de Aronofsky terem sido atingidas, a impressão que permanece é a de um elemento incompleto, algo que não soube complementar-se.

Eu particularmente gostei, mas o público e a crítica ficaram divididos. Ninguém o mencionou como ruim, mas também o oposto é verdadeiro.

Lançado, visto, esquecido.

O fracasso financeiro não foi absurdo dado o investimento, digamos, mediano para os padrões de Hollywood. O fracasso pessoal, no entanto, foi intenso.

Dois anos depois, ele que tornara-se uma grande promessa no início de sua carreira, mostrava que é possível ser um realizador extremamente autoral e alcançar o reconhecimento por parte dos espectadores.

O Lutador (the wrestler) utilizava uma linguagem visual angustiante, próxima, claustrofóbica. Tudo é visto de um único ponto de vista. Estamos ao lado de Randy “The Ram” Robinson, um ex-ídolo da luta livre que inicia uma jornada pessoal no intuito de recuperar sua auto-estima como pai e profissional de um esporte que decai dia após dia.

Foi o renascimento de Mickey Rourke.

A honestidade somada à sutileza da obra rendeu a Aronofsky o prêmio principal de Veneza.

Cisne Negro (black swan) confirmou sua habilidade e, contra todas as expectativas, tornou-se um sucesso. Com o modesto orçamento de 13 milhões de dólares, acumulou mais de 300 milhões mundo afora e deu ao realizador uma indicação ao Oscar.

Consagrado e com as dívidas pagas a Hollywood, curiosamente, nada mais foi anunciado.

Passaram-se dois anos sem notícias sobre ele.

Até esta semana.

Foi anunciado afinal que Noah (ainda sem título em português) estaria no estágio de pré-produção.

A história é baseada no épico bíblico A Arca de Noé (chamado de Noah em países de língua inglesa). Para quem não conhece, A Arca de Noé faz parte do Antigo Testamento e narra um momento da história em que Deus, insatisfeito com a raça humana, decide provocar uma chuva torrencial que dizimaria todos os seres vivos.

Deus contata Noé e pede que este construa uma arca que possa abrigar um macho e uma fêmea de cada espécie de animal e também sua família. Ele estaria sendo poupado por carregar dentro de si a bondade em seu estado mais puro.

Depois do dilúvio, Noé, sua família e todos os animais deveriam iniciar um mundo novo, isento de maldade e inveja.

As histórias do Velho Testamento possuem fé, mas pouca religiosidade. Na verdade, são textos sobre o âmago do ser humano, suas frustrações, seus medos e suas virtudes.

Pouco se sabe se o filme de Aronofsky irá narrar A Arca de Noé tal qual foi escrita, mas devemos esperar uma produção de respeito, dadas as proporções de seus eventos.

A única certeza é a de que Russell Crowe será Noé.

Mas o cinema não vive de certezas, vive de dúvidas. E ela existe em relação ao talento de Aronofsky? As opiniões divergem. Esta é, no entanto, uma questão que grande parte dos cinéfilos de plantão gostaria de esclarecer.

E irão, em 2014.



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