29 de outubro de 2012

MOONRISE KINGDOM


Outro dia eu li uma entrevista dada por Josh Homme onde ele descrevia a razão pela qual criou o Queens of the Stone Age: “Eu queria montar uma banda onde as pessoas pudessem identificar as músicas escutando apenas os primeiros acordes”. Obviamente, Homme queria uma banda autoral, como o AC/DC, entre tantas outras.

Aliás, artistas ao redor do mundo procuram sua assinatura pessoal. Daí surgem termos como o toque de Lubitsch ou de Borzage, o suspense de Hitchcok, os enquadramentos renascentistas de Kubrick, a incomunicabilidade de Antonioni, a ambientação angustiante de Bergman e diversos outros nomes que seguem noite adentro. A lista é longa, mas seleta.

Wes Anderson pode, já há algum tempo, ser inserido neste panteão de cineastas.

Ele não só encontrou uma linguagem estritamente pessoal, como também criou uma vertente humorística que é vista somente em seus filmes. Está é a única maneira de explicar como Os Excêntricos Tenenbauns (the royal Tenenbauns) e O Fantástico Sr. Raposo (fantastic Mr. Fox) deveriam estar lado a lado nas prateleiras das videolocadoras. São obras completamente diferentes e, inexplicavelmente, idênticas em centenas de aspectos.

Isso é cinema autoral.

Seja ele bom, ou ruim, ele é. E isso é o que realmente importa.

Em seu novo longa intitulado Moonrise Kingdom (idem), Wes Anderson aborda as aventuras de um casal de crianças que busca um local onde possam consumar um relacionamento verdadeiro, longe dos grupos, famílias, regras e olhares alheios.

Inclusive ele não deixa a regra do politicamente correto interferir em seu olhar caótico e sugere sexo, filma sensualidade, e tem, de maneira incrivelmente sensível, como resultado, uma fábula sobre o amor.

Tudo gira em torno de desconstruir o óbvio e enxergar o mundo sob uma perspectiva diferente.

Aliás, poderíamos dizer que o caos reina em grande parte da história: os cenários e sua mescla de contrastes e cores artificiais, os movimentos agressivos de câmera utilizando uma linguagem quase geométrica, o dilúvio, as crises, a violência e as sugestões, quase subliminares, que deixariam religiosos e conservadores enfurecidos.

Mas Anderson é, inegavelmente, um gênio.

Dentro deste universo lírico, a loucura atinge um grau reverso e revela, como um espelho distorcido, a verdadeira loucura que reina no universo que entendemos como real. A banalidade dos relacionamentos, a infantilidade que transborda dos mais velhos e, como um tiro de misericórdia, revela, de forma minuciosa, o porquê de nossas crianças estarem tornando-se adultas antes do tempo.

Razões simples: os adultos agem como idiotas. Mais do que isso, as crianças precisam assumir compromissos e responsabilidades, pois diante de uma geração de pais e mães incapazes, alguém precisa fazer alguma coisa.

Ainda mais ácida é a desconstrução de gêneros e clichês. Anderson brinca com técnicas recorrentes e demonstra que o cinema também está infantilizado. Como explicar de forma racional que Toy Story 3 (idem) seja mais inteligente e perspicaz (e tenha censura livre) que Transformers (idem), que é proibido para 14 anos? Resposta simples: nossas crianças estão ficando mais inteligentes e nossos adultos, se é que existe o termo, mais imbecis.

Longe de querer causar uma revolução, a intenção de Anderson é uma só: fazer bons filmes.

Quem dera metade dos cineastas do mundo pensasse assim.