20 de agosto de 2012

360


Um amigo do meu pai contava a seguinte história:

Ele estava em uma pizzaria. Uma dessas pequenas, difíceis de ver nos dias de hoje, localizada no térreo de antigos edifícios residenciais, logo ao lado da portaria. Comia sentado em uma mesa na calçada, debaixo de um toldo. Subitamente o toldo rasgou e um bebê caiu sentado no seu prato, sobre uma fatia de pizza. Ele nunca definiu a idade exata do bebê, mas os fatos que se seguem na história me fazem crer que era um recém-nascido, de poucos meses. Como médico e, obviamente, um ser humano, levou-o ao hospital imediatamente. Diversos exames foram realizados. Órgãos internos perfeitos, nenhuma fratura, nem mesmo um arranhão. Perfeito. Aliviado, ele voltou ao local do incidente acompanhado de um grupo de policiais. Uma investigação foi feita. Uma empregada doméstica, desesperada por ter sido abandonada pelo namorado alguns dias após o parto, entrou em profunda depressão. Num ato de insanidade, jogou o bebê pela janela. Ela trabalhava no décimo andar.

Não existe nada mais incrível que a vida real. As histórias mais loucas não estão nas linhas de um livro, mas ao seu lado. Um parente, um vizinho, um amigo... Você.

E este é um erro recorrente cometido por grande parte dos cineastas.

Cinema não é realidade. Desta forma, não basta contar uma história baseado no fato de que ela um dia aconteceu. É necessário convencer o espectador de que ela é verdadeira. Caso contrário, passear no parque e tomar um picolé pode se tornar uma ação forçada.

Este é o maior dos muitos erros contidos em 360 (idem), novo filme de Fernando Meirelles.

Todos os ganchos de todas as histórias ao redor de todos os personagens (e são muitos) foram claramente impostos por falta de recursos do roteirista. Manuseados para fazer a estrutura funcionar.

A culpa do roteiro não retira as responsabilidades do realizador brasileiro. Os maneirismos de Cidade de Deus (idem) tornaram-se relevantes diante da grande história e das excepcionais atuações. Aqui, o efeito é contrário. A irritante plástica na busca de ângulos diferenciados não contribuem para se contar a história já que, como dito, basicamente não há uma história. Mesmo atores excepcionais como Anthony Hopkins e Ben Foster tornam-se coadjuvantes nesta multi-trama que se assemelha a uma longa e incompreensível propaganda de perfume. As histórias não têm início, meio ou fim. Juntas, significam ainda menos, se é que isso é possível.

O desastre torna-se ainda mais iminente quando os verdadeiros coadjuvantes não contribuem em nada e, mais do que isso, são novos ganchos forçados para conectar personagens.

A grande questão é: qual a intenção de forçar a interação de tantos personagens se nenhum deles tem nada de útil para dizer?

Eu não costumo, pelo menos não neste blog, ser tão incisivo em minhas colunas.

Se algum dos responsáveis pela produção de 360 devolver o dinheiro da minha entrada eu me comprometo a apagar este texto e não tocar mais neste assunto.