29 de outubro de 2012

MOONRISE KINGDOM


Outro dia eu li uma entrevista dada por Josh Homme onde ele descrevia a razão pela qual criou o Queens of the Stone Age: “Eu queria montar uma banda onde as pessoas pudessem identificar as músicas escutando apenas os primeiros acordes”. Obviamente, Homme queria uma banda autoral, como o AC/DC, entre tantas outras.

Aliás, artistas ao redor do mundo procuram sua assinatura pessoal. Daí surgem termos como o toque de Lubitsch ou de Borzage, o suspense de Hitchcok, os enquadramentos renascentistas de Kubrick, a incomunicabilidade de Antonioni, a ambientação angustiante de Bergman e diversos outros nomes que seguem noite adentro. A lista é longa, mas seleta.

Wes Anderson pode, já há algum tempo, ser inserido neste panteão de cineastas.

Ele não só encontrou uma linguagem estritamente pessoal, como também criou uma vertente humorística que é vista somente em seus filmes. Está é a única maneira de explicar como Os Excêntricos Tenenbauns (the royal Tenenbauns) e O Fantástico Sr. Raposo (fantastic Mr. Fox) deveriam estar lado a lado nas prateleiras das videolocadoras. São obras completamente diferentes e, inexplicavelmente, idênticas em centenas de aspectos.

Isso é cinema autoral.

Seja ele bom, ou ruim, ele é. E isso é o que realmente importa.

Em seu novo longa intitulado Moonrise Kingdom (idem), Wes Anderson aborda as aventuras de um casal de crianças que busca um local onde possam consumar um relacionamento verdadeiro, longe dos grupos, famílias, regras e olhares alheios.

Inclusive ele não deixa a regra do politicamente correto interferir em seu olhar caótico e sugere sexo, filma sensualidade, e tem, de maneira incrivelmente sensível, como resultado, uma fábula sobre o amor.

Tudo gira em torno de desconstruir o óbvio e enxergar o mundo sob uma perspectiva diferente.

Aliás, poderíamos dizer que o caos reina em grande parte da história: os cenários e sua mescla de contrastes e cores artificiais, os movimentos agressivos de câmera utilizando uma linguagem quase geométrica, o dilúvio, as crises, a violência e as sugestões, quase subliminares, que deixariam religiosos e conservadores enfurecidos.

Mas Anderson é, inegavelmente, um gênio.

Dentro deste universo lírico, a loucura atinge um grau reverso e revela, como um espelho distorcido, a verdadeira loucura que reina no universo que entendemos como real. A banalidade dos relacionamentos, a infantilidade que transborda dos mais velhos e, como um tiro de misericórdia, revela, de forma minuciosa, o porquê de nossas crianças estarem tornando-se adultas antes do tempo.

Razões simples: os adultos agem como idiotas. Mais do que isso, as crianças precisam assumir compromissos e responsabilidades, pois diante de uma geração de pais e mães incapazes, alguém precisa fazer alguma coisa.

Ainda mais ácida é a desconstrução de gêneros e clichês. Anderson brinca com técnicas recorrentes e demonstra que o cinema também está infantilizado. Como explicar de forma racional que Toy Story 3 (idem) seja mais inteligente e perspicaz (e tenha censura livre) que Transformers (idem), que é proibido para 14 anos? Resposta simples: nossas crianças estão ficando mais inteligentes e nossos adultos, se é que existe o termo, mais imbecis.

Longe de querer causar uma revolução, a intenção de Anderson é uma só: fazer bons filmes.

Quem dera metade dos cineastas do mundo pensasse assim.

18 de setembro de 2012

TROPICÁLIA


Eu tive o privilégio de estar presente na estréia do documentário Tropicália (idem), realizada no Cinespaço do The Square Open Mall, centro empresarial e Shopping Center localizado na região da Granja Viana.

Mais do que isso, tive também o privilégio de me sentar ao lado da produtora Paula Cosenza e do diretor Marcelo Machado em uma conversa informal à frente de um cinema com seus 210 lugares quase cheios. Pelo menos durante a sessão que, diga-se de passagem, teve muitos convidados graças a um evento promovido pela Rádio Granja, mas também teve ingressos à venda para o público comum.

Ou seja, foi uma sessão especial, mas não fechada.

A receptividade do diretor para com as perguntas dos presentes foi entusiasmante. Na verdade, foram poucas perguntas e muitos agradecimentos por parte do público mais velho, muitos deles jovens e presentes durante o movimento Tropicalismo em si, que se sucedeu entre os anos de 1967 e 1969.

Jornais e revistas dirão tudo. Repórteres mais bem preparados, informados e talentosos que eu, que nem sou repórter, se certificarão de que os leitores recebam, com minuciosidade, todas as análises e comparativos, sejam eles positivos ou não.

Isso me deixa livre para fazer o que eu mais gosto: expressar minha opinião sem me prender a técnicas ou até mesmo à lógica comum.

O Tropicalismo foi um movimento torto, desconexo. Um elemento sensorial audiovisual que tinha o intuito de desnortear a visão linear da realidade. Fosse pela busca de novas perspectivas e experiências, fator comum não só na vanguarda, mas também na arte pop dos anos 60, fosse para burlar o olhar severo da ditadura militar. Mesmo confusas, as peças do quebra-cabeça estão todas lá, unidas de forma incompreensível, inexplicável, mas inseparável. Não como em um roteiro clássico de um filme de John Ford, mais como em uma ação anti-dramática ao melhor estilo Godard.

E o filme, em sua estrutura e lógica, acompanha esta explosão de criatividade e rebeldia que, muito possivelmente pela proibição em solo nacional, pelo confinamento da liberdade e pelo caldeirão de sensatez que transbordava mundo afora, tornou-se real e eterna.

A sequência final, algo possível somente graças ao evento do cinema, é particularmente tocante. Evito dizer como termina, afinal, existem eventos que podem pairar ignorados por décadas, mas terminar verdadeiramente, nunca terminam.

20 de agosto de 2012

360


Um amigo do meu pai contava a seguinte história:

Ele estava em uma pizzaria. Uma dessas pequenas, difíceis de ver nos dias de hoje, localizada no térreo de antigos edifícios residenciais, logo ao lado da portaria. Comia sentado em uma mesa na calçada, debaixo de um toldo. Subitamente o toldo rasgou e um bebê caiu sentado no seu prato, sobre uma fatia de pizza. Ele nunca definiu a idade exata do bebê, mas os fatos que se seguem na história me fazem crer que era um recém-nascido, de poucos meses. Como médico e, obviamente, um ser humano, levou-o ao hospital imediatamente. Diversos exames foram realizados. Órgãos internos perfeitos, nenhuma fratura, nem mesmo um arranhão. Perfeito. Aliviado, ele voltou ao local do incidente acompanhado de um grupo de policiais. Uma investigação foi feita. Uma empregada doméstica, desesperada por ter sido abandonada pelo namorado alguns dias após o parto, entrou em profunda depressão. Num ato de insanidade, jogou o bebê pela janela. Ela trabalhava no décimo andar.

Não existe nada mais incrível que a vida real. As histórias mais loucas não estão nas linhas de um livro, mas ao seu lado. Um parente, um vizinho, um amigo... Você.

E este é um erro recorrente cometido por grande parte dos cineastas.

Cinema não é realidade. Desta forma, não basta contar uma história baseado no fato de que ela um dia aconteceu. É necessário convencer o espectador de que ela é verdadeira. Caso contrário, passear no parque e tomar um picolé pode se tornar uma ação forçada.

Este é o maior dos muitos erros contidos em 360 (idem), novo filme de Fernando Meirelles.

Todos os ganchos de todas as histórias ao redor de todos os personagens (e são muitos) foram claramente impostos por falta de recursos do roteirista. Manuseados para fazer a estrutura funcionar.

A culpa do roteiro não retira as responsabilidades do realizador brasileiro. Os maneirismos de Cidade de Deus (idem) tornaram-se relevantes diante da grande história e das excepcionais atuações. Aqui, o efeito é contrário. A irritante plástica na busca de ângulos diferenciados não contribuem para se contar a história já que, como dito, basicamente não há uma história. Mesmo atores excepcionais como Anthony Hopkins e Ben Foster tornam-se coadjuvantes nesta multi-trama que se assemelha a uma longa e incompreensível propaganda de perfume. As histórias não têm início, meio ou fim. Juntas, significam ainda menos, se é que isso é possível.

O desastre torna-se ainda mais iminente quando os verdadeiros coadjuvantes não contribuem em nada e, mais do que isso, são novos ganchos forçados para conectar personagens.

A grande questão é: qual a intenção de forçar a interação de tantos personagens se nenhum deles tem nada de útil para dizer?

Eu não costumo, pelo menos não neste blog, ser tão incisivo em minhas colunas.

Se algum dos responsáveis pela produção de 360 devolver o dinheiro da minha entrada eu me comprometo a apagar este texto e não tocar mais neste assunto.

31 de julho de 2012

THE DARK KNIGHT RISES - REVIEW


A Jornada do Herói, em especial na estrutura trágica Grega, conta com um elemento capaz de tornar guerreiros e conquistadores em meros tolos que ousaram dar um passo além. Este elemento chama-se Hybris.

Sua melhor tradução talvez seja “descomedimento”, mas arrogância não deixa de ser uma palavra bastante próxima de seu significado real.

Um bom exemplo é a saga de Ícaro.

Preso em um labirinto com seu pai Dédalo, Ícaro tinha apenas um objetivo: escapar e reconquistar sua liberdade. Juntos, pai e filho construíram asas com penas de gaivota e cera de mel de abelhas e as acoplaram nos braços. Assim poderiam voar para longe.

Mas isso não foi o suficiente. Ícaro foi tentado pela Hybris e quis voar cada vez mais alto. Foi além de seus objetivos e, por arrogância, foi destruído. Ao voar muito próximo do sol, a cera que colava as penas derreteu e Ícaro caiu em meio ao mar Egeu.

O mesmo poderia ter acontecido a Christopher Nolan.

Após o sucesso irrepreensível de crítica e público alcançado por O Cavaleiro das Trevas (the dark knight), o realizador parecia ter posto um ponto final na saga do Homem-Morcego, ao menos por suas mãos.

Mas os estúdios queriam mais.

Difícil abandonar a sequência de um filme que alcançou a marca de um bilhão de dólares de renda. Fosse bom ou ruim o terceiro episódio, o lucro seria garantido.

Então Nolan foi tentado pela Hybris.

Eu posso imaginar o que passou em sua cabeça: “Se eu fracassar, corro o risco de destruir o triunfo artístico de seu antecessor. Seria uma mancha em minha carreira. No entanto, se eu triunfar, poderia me tornar um mito”.

Ele conseguiu.

O Cavaleiro das Trevas Ressurge (the dark knight rises) é uma experiência cinematográfica poderosa.

Eu tive a oportunidade de assisti-lo na sala Imax e admito que me senti como um garoto em sua primeira sessão de cinema.

Bane pode não ser um antagonista tão icônico como foi o Coringa, mas este último episódio da trilogia se supera em praticamente todos os quesitos.

A abrangência de sua trama e o cuidado com os detalhes em todos os elementos tornam difícil um filme de ação ter a ousadia de estrear em tempos vindouros. A obra já é um marco e certamente fará com que estúdios e realizadores repensem o que significa fazer cinema nos dias de hoje.

As sequências de ação auxiliadas pela trilha e pelos efeitos sonoros (nunca ouvi nada igual) refletem a realidade do que é ir ao cinema: desligar-se do que ocorre à sua volta.

Eu assistia a uma sessão quase lotada e não escutei ruídos ou conversas paralelas. O público estava hipnotizado.

Mesmo os diálogos em tom épico, que servem para integrar o espectador de detalhes que, se não descritos verbalmente nos fariam perder minutos preciosos, funcionam. São rápidos, diretos e não procuram se esconder entre cortes bruscos e movimentos imprecisos de câmera.

Nolan voou além e deixou bem claro que não existe qualquer possibilidade de haver um quarto episódio. Como disse Pelé, em uma das poucas frases felizes de sua vida: “Saber a hora de parar é uma arte”.

Para nossa sorte, ele não parou no anterior.


23 de julho de 2012

THE DARK KNIGHT RISES


Devido ao lamentável ato de brutalidade ocorrido em uma sala de cinema no Colorado, os números das bilheterias norte-americanas foram divulgados com atraso, por respeito às famílias das vítimas.

Eu, honestamente, não vejo como isso pode significar sinal de respeito. Mas muito do que acontece nos dias de hoje é um total mistério pra mim. Desta maneira, prefiro não opinar sobre o assunto.

Assim, hoje, Segunda-feira 23/07 o site IMDB divulgou a lista dos dez filmes mais assistidos neste último final de semana.

Como era de se esperar, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (the dark knight rises) não teve problemas para alcançar o primeiro lugar. Não bateu o recorde de Os Vingadores (the avengers), mas tornou-se a maior renda em um final de semana de estréia de um filme 2D que, como todos sabemos, demanda ingressos mais baratos que os que possuem tecnologia 3D.

Mas este não é o aspecto principal.

Críticos e espectadores ao redor do país, em sua grande maioria, afirmam que este novo episódio é muito superior ao badalado O Cavaleiro das Trevas (the dark knight).

Christopher Nolan parece ter conseguido a façanha de desbancar seu antecessor, fazendo deste terceiro episódio um triunfo artístico de proporções magnânimas ao gênero.

Na próxima Sexta-feira, 27/07, o filme, afinal, fará sua estréia no Brasil.

Até lá, resta crescer as expectativas para ver até onde vai o toque de Midas de Nolan.


20 de julho de 2012

PARIS, TEXAS


Existe algo de comunicativo na pornografia.

Os garotos que procuram tomos da revista Playboy no fundo das gavetas de seus pais ou que pedem para os irmãos mais velhos alugarem vídeos eróticos estão procurando um elo entre gerações. Uma espécie de rito de passagem. A criança iniciando a caminhada para a vida adulta. A adolescência, em termos simples.

Quando eu era moleque, fazia fichas em videolocadoras distantes da minha casa para não correr riscos de encontrar conhecidos. Passava horas na sessão dos filmes de terror (bem ao lado da sala privada que continha o objeto de desejo) e quando o local estava vazio, pegava uma fita qualquer. Passava pelo balcão sem olhar para o atendente. Se fosse uma mulher, aliás, ia embora sem levar nada. Carregava o filme para casa embrulhado em um saco de padaria e fazia uma cópia, de um videocassete para outro. Era uma aventura. Depois, eu e meus amigos compartilhávamos nossas preciosidades.

Hoje, com a internet, tudo ficou mais fácil.

Todo adolescente procura pornografia. Ser jovem não é nada fácil. E é um desejo inato do ser humano. O sexo fará parte da vida de todos.

A violência não.

A morbidez não é uma necessidade fisiológica. A procura pela morte, acidentes ou notícias chocantes mais me parece uma doença da sociedade moderna. Dizem que o ser humano é violento por natureza, mas basta estudar a estrutura matrilinear, muito anterior à idéia de civilização que temos nos dias de hoje, para saber que tudo não passa de pura especulação.

Mas a violência está entre nós e tornou-se uma obsessão, uma perversão, melhor dizendo. Filmes como Jogos Mortais (Saw) tem censuras mais liberais que filmes pornográficos. Implicitamente, queremos dizer que desfrutar de atos de violência descabida não é tão prejudicial quanto assistir a um casal transando.

Honestamente, o sexo, por mais banalizado que tenha se tornado, nunca será tão doentio quanto uma tortura, por exemplo.

Indiferente a isso, a mídia mistifica a violência, transforma fatos isolados em rotina, dramatiza o sofrimento alheio e vende morte como produto.

Bem vindo ao mundo snuff.

Nestes momentos de reflexão eu percebo como o cinema é uma forma de comunicação poderosa.

Ao assistir uma obra como Paris, Texas (idem) fica fácil perceber como tudo o que há de supérfluo se desfaz e o mundo adquire uma feição especial. Como se houvesse um espaço reservado para cada obra-prima.

E existe algo de sublime neste afresco de Wim Wenders.

Não há uma estrutura comum ao tradicional. Existe este homem, interpretado de forma quase lírica por Harry Dean Stanton, que surge, em meio ao nada, e sua presença cria um conflito com o mundo comum. Deslocado, curiosamente tudo o que ele procura é voltar a fazer parte deste universo. Deste quadro que, por alguma razão, ele deixou para trás e hoje percebe que nele está o que há de melhor em si.

A pureza está no aspecto da bondade. Travis (Harry) reencontra seu irmão, Walt, que o tinha como morto, pois ele estava desaparecido há quatro anos. Walt adotou seu sobrinho, filho de Travis, quando este o abandonou ainda criança. Quando Walt percebe que Travis pode querer reconquistar seu filho, ele nada faz para impedi-lo. Pode parecer injusto. Ele cuidou do garoto quando este nem mesmo tinha notícias de seu pai e o criou como se fosse um filho seu. Mas Travis busca sua redenção e o fato de não haver um conflito inerente cria uma beleza particular ao enredo.

Existe algo de ruim no passado. Uma sucessão de fatos, uma coincidência de ações, um mau alinhamento dos planetas, que levou estas pessoas a estarem onde estão hoje. Mas o passado está enterrado. Estamos no presente e este homem será tão honesto em suas ações, ele fará tudo de uma maneira tão correta que os dicionários poderiam usar seu rumo para simplificar o verdadeiro significado da palavra redenção. Mesmo os que buscam conflitos, os que tendem a achar que está tudo fácil demais, ficariam incomodados se algo de errado ocorresse em sua missão.

Travis é o modelo que deveria ser exemplo a uma sociedade moderna. Um verdadeiro herói. E todos à sua volta, com toda sua simplicidade, seriam seus complementos essenciais.

O mundo pode parecer um lugar estranho por vezes, mas filmes como Paris, Texas me fazem acreditar que a opinião simplesmente não é unânime.


17 de julho de 2012

VALENTE


Dificilmente a Pixar irá reencontrar a originalidade e a ousadia de um Wall-E (idem) ou a qualidade nostálgica da série Toy Story (idem). Feitos raros, não apenas no universo das animações, mas também na história da arte em si. Pontos altos e memoráveis, um legado que se estende e se completa.

Assim a história segue.

Alguns elementos, no entanto, permanecem e aperfeiçoam-se obra a obra. O maior deles talvez seja a atenção aos detalhes.

A riqueza das imagens e a importância dos elementos em cena criam um universo magnífico e pessoal. Somente Kung Fu Panda (idem) foi capaz de fazer frente a este grupo de criadores, pelo menos neste quesito. Mesmo Carros 2 (cars 2), ponto fraco de sua filmografia, apresenta sequências com um nível de perfeição tão alto que valem a atenção observando suas pinceladas.

Valente (brave) me parecia uma incógnita. Não no aspecto visual. Basta ver a cabeleira de Merida espalhada ao vento para notar a assinatura da qualidade. Eu digo referente à história que é, ao final, o grande atrativo. Apesar de ter como distribuidora a Walt Disney Pictures, a Pixar tem liberdade criativa total. Fosse o contrário, Ratatouille (idem) jamais teria sido realizado da forma como conhecemos. O que dirá o já citado Wall-E.

Mesmo assim, uma princesa, um reino encantado, uma história baseada em fábulas e mitos, canções, bruxas... A Disney estaria em casa.

Para a nossa sorte, não esteve.

Valente não é uma comédia hilariante, mas agrada por ser intrigante, meticulosamente dosado e simples em sua complexidade. A história confundiria as crianças, não estivesse camuflada por um magnífico visual, boas cenas de ação e um humor fácil.

Fácil não no sinônimo de ruim, mas voltado para sentimentos primários. O velho pastelão, na linguagem comum. A movimentação dos personagens e suas excentricidades (muitos estereótipos) funcionam bem. Existem elementos bastante sofisticados, mas devemos lembrar sempre que o público alvo é o infantil. Desta maneira, nada como quedas e humor adaptável. Muitas vezes mais difícil que o refinado.

Sempre que vou assistir a um filme deste porte observo as reações do meu filho. E eu fiquei bastante apreensivo ao término. Não me parecia algo que interessasse a uma criança de cinco anos.

Para minha surpresa ele saiu extremamente satisfeito, eu também.

Deduzo que, por essa razão, é uma boa obra.

Certamente irá surpreender muitos desconfiados.


13 de julho de 2012

PARA ROMA COM AMOR


“Bom, mas não o melhor Woody Allen”.

Estas frases feitas, a velha lenga-lenga por trás de críticos que não vêem nada de novo pode ser cansativa. Não, não é o melhor filme de Woody Allen. E daí? Ninguém disse que seria. Nós não vamos ao cinema para ver o melhor Woody Allen, mas para ver o que ele tem de melhor.

Há uma grande diferença.

Uma grande diferença que comprova que juventude e perspicácia ainda não são capazes de superar o talento inato. Hoje, aos 76 anos, Woody Allen ainda apresenta mais frescor e um senso agudo de observação superior aos jovens visionários. Por esta razão, a espectadora ao meu lado, por volta de seus 80 anos, eu diria, ria junto comigo.

Os problemas do mundo, a chave da comédia, soam de forma igual para todos quando apresentados sob a acidez do sarcasmo.

Para Roma Com Amor (to Rome with love) introduz o conhecido lirismo do realizador de forma bastante diferenciada. Em meio a fatos comuns, elementos misturam-se e criam uma atmosfera que a principio pode parecer trivial, mas aos poucos demonstra fazer parte apenas das regras deste jogo em particular.

É o mundo feérico colidindo com a rotina.

Sempre quis ver Roberto Benigni e Woody Allen juntos. Apesar de não contracenarem entre si, fiquei plenamente satisfeito com o resultado.

Aliás, voltar a ver Woody Allen à frente das câmeras e não apenas por trás delas já é um deleite. E seu personagem realiza feitos os quais nem mesmo o mais atordoado dos roteiristas de Monty Python seria capaz de conceber.

Engana-se quem o considera um pseudo intelectual demasiadamente sofisticado e por muitas vezes pedante. Eu não sou autoridade em assunto algum e considero seu humor um prazer raro.

Querem ver o melhor Woody Allen? Vejam-no por completo.  


1 de julho de 2012

A ERA DO GELO 4


A Era do Gelo 4 (ice age: continental drift) teve sua estréia em solo nacional no último dia 29. Os norte americanos terão de esperar duas semanas mais.

Alguns anos atrás, este era um fato incomum. Nos últimos tempos, no entanto, diversos estúdios chegaram à conclusão de que utilizar a recepção do público e críticas favoráveis vindas de fora como ferramentas de marketing pode funcionar muito bem. Com Os Vingadores (the avengers) foi assim. A expectativa aumentou muito e certamente colaborou para o filme bater o recorde de bilheteria em um final de semana de estréia.

Com este novo episódio de A Era do Gelo o tiro pode sair pela culatra.

Os comentários são desfavoráveis (alguns até bastante incisivos) e a expressão do público, pelo menos na sessão à qual eu estive presente, foi de decepção. Por diversas vezes eu escutei meu filho dizer: “Eu não estou gostando muito”, o que na linguagem dos adultos significa que o filme é péssimo.

Eu não diria de todo ruim. Mas a estrutura narrativa é realmente terrível.

Existem piadas muito boas, mas quase todas voltadas para o público adulto. E pior, o ritmo é oscilante. As sequências de ação são mal elaboradas e os momentos cômicos isolados. A história paralela à aventura do trio de amigos chega a ser um desaforo à inteligência das crianças. A apresentação dos personagens é demasiada hesitante e a maior parte destes muito mal explorada. Já que Crash e Eddie aparecem pouco e não há um elemento cômico ao estilo Buck, sobra para Sid conduzir a comédia. Ele tem os melhores momentos, é bem verdade, mas não o suficiente para manter a história interessante.

O desastre maior, no entanto, fica para o final.

O termo Deus Ex-Machina foi criado na Grécia e significa algo como Deus Surgido da Máquina. É um artifício teatral, mas que já foi muito utilizado no cinema. Basicamente ele surge quando o escritor/roteirista não consegue criar um gancho para dar continuidade à sua trama, ou não descobre uma forma de criar um desfecho para sua história. Surge então uma força sobrenatural (Deus, por exemplo) que age diretamente contra ou a favor de um personagem. Na Grécia antiga eram bonecos movimentados por uma maquinaria, daí surgiu o termo. Na maior parte das vezes, no entanto, este truque é camuflado. Por exemplo: o herói está encurralado e o vilão aproxima-se para matá-lo. Não há saída. Então, cai um meteoro do céu e mata o vilão. Utilizar a casualidade é interessante, mas quando ela se torna um elemento crucial fica claro que o que aconteceu na realidade foi uma grande falta de criatividade, para não dizer preguiça. Isso acontece ao final de A Era do Gelo 4. Não vou dizer como para não estragar a surpresa, mas está lá.

Como balanço geral, é um programa mediano que pode agradar um público pouco exigente.

Pelo menos por algum tempo.


26 de junho de 2012

DREDD


Um novo episódio de G.I. Joe e o reboot da origem do Homem-Aranha não são suficientes. Hollywood decretou que 2012 seria o ápice de sua falta de criatividade. Desta forma, que melhor momento para tentar recuperar alguns fracassos do passado? Apostas ganhas que naufragaram nas bilheterias?

Dredd (idem) torna-se o primeiro passo.

Não que eu tenha nada contra o personagem criado por John Wagner e Carlos Ezquerra. A visão futurista e caótica de uma cidade onde a polícia age como lei, júri e juiz, espelham um universo apocalíptico bastante explorado por artistas dos quadrinhos entre os anos 70 e 80. Aliás, o belíssimo visual imposto pelas histórias deveria resultar também em belas imagens.

Não foi o que aconteceu em 1995.

O Juiz (judge Dredd), protagonizado por Sylvester Stallone, foi mais um dos muitos equívocos constrangedores produzidos por um grande estúdio.

Curiosamente, Hollywood não costuma corrigir seus erros. Não costuma analisar o que deu errado no intuito de procurar uma abordagem diferenciada. Na verdade, há uma insistência religiosa em sua fórmula datada que, na maior parte das vezes, funciona, é bem verdade. Ao menos na questão financeira.

Pelo trailer, é possível dizer que esta nova versão corre um risco tremendo de ser ainda pior que a anterior.

Abaixo segue o link.

http://www.imdb.com/title/tt1343727/videogallery

25 de junho de 2012

FUNNY GAMES


Eu demorei, mas após um esforço tremendo, finalmente consegui compreender.

As linhas acima não fazem muito sentido, é bem verdade, mas o conteúdo abaixo irá complementá-la.

O diretor austríaco Michael Haneke teve a oportunidade de filmar uma nova versão de Violência Gratuita (funny games), obra de 1997 que deu reconhecimento internacional ao realizador e lhe rendeu uma indicação à Palma de Ouro do Festival de Cannes.

Procedimento bastante recorrente nos EUA: filmar em seu próprio solo produções de outros países. O gênero terror abasta a criatividade de Hollywood há anos.

O que eu jamais entendi, é porque Haneke decidiu utilizar o mesmo roteiro, os mesmos diálogos, os mesmos enquadramentos, os mesmos movimentos de câmera e a mesma disposição de objetos. Foi o mesmo filme com outros atores.

A resposta é bastante óbvia.

Violência Gratuita é possivelmente a obra mais incisiva como crítica à violência de entretenimento. E esta fórmula mágica, presente em filmes como Duro de Matar (die hard) até Jogos Mortais (Saw) abastece os cofres da indústria cinematográfica há mais de 100 anos. E nasceu lá, na América do Norte.

O filme de Haneke mostra como esta forma de violência é uma perversão, uma afronta à realidade. Até mesmo o aspecto cômico, muito explorado por Quentin Tarantino (apenas para citar um exemplo) é desconstruído, principalmente em sua metalinguagem.

Violência Gratuita nos relembra que não existe nada de divertido na violência. Utilizando uma abordagemincômoda, quase masoquista, a história, que apresenta um mínimo de imagens chocantes, agride o espectador de forma tão angustiante que é necessário descobrir quantos têm estômago para permanecer até o final da sessão. Em um determinado momento, um dos personagens diz “Por que você não nos mata e acaba logo com isso?” um dos torturados (se é que este é mesmo o termo adequado) olha para a câmera e diz “Ora, nós queremos uma história com trama, começo meio e fim. Não é mesmo?”.

E, infelizmente, é isso que nós queremos. Entretenimento na maior parte do tempo. Sorrir para não refletir. A banalização da violência é o ponto culminante de uma civilização que consegue anestesiar o ser humano ao seu extremo, levá-lo a um local onde tudo é tão distante que até mesmo a morte pode ser divertida.

Por isso ele não alterou nenhum detalhe em sua nova versão. Foi sua maneira de dizer “Vocês querem ganhar dinheiro e tornar minha maior crítica ao entretenimento no próprio mal que eu combato? Preparem-se para uma surpresa”.

O filme custou 20 milhões de dólares e rendeu apenas um.

Pode uma crítica ser mais direta?


TOP TEN


A Pixar estréia na primeira posição com Valente (idem) que deve adentrar os cinemas brasileiros no dia 20 de Julho. É um fato corriqueiro para o grupo que produziu as melhores animações, recebeu os prêmios mais importantes e detém as melhores bilheterias. A novidade talvez seja um personagem feminino como protagonista em uma história que se assemelha às fábulas. Não tanto fábulas infantis, mas histórias folclóricas, tal qual a abordada em Como Treinar seu Dragão (how to train your dragon). A recepção foi muito boa e os números bastante razoáveis para um ano surpreendentemente fraco em questões monetárias dos espectadores norte americanos.

Por esta razão, Os Vingadores (the avengers) merece uma atenção especial. O filme está muito próximo de se tornar a segunda maior bilheteria nos EUA. Semana que vem deveremos ter a marca de 600 milhões de dólares impostas por Titanic (idem) em 1998, quebrada pela segunda vez. Nos números globais a tarefa é praticamente impossível, mas devemos nos recordar que apesar de ter nascido para abocanhar a maior fatia possível de público, Os Vingadores está longe de ter o apelo de Titanic. Pelo menos no universo feminino.

Outra surpresa é Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the huntsman) que alcança um sucesso maior que os esperado.

Homens de Preto 3 (MIB III) e Prometheus (idem) mantém-se com bons números e a bilheteria somada deve pagar os gastos. Particularmente, a obra de Ridley Scott teve boa recepção de crítica e público e talvez seja lembrada pelo Oscar, ao menos nos quesitos técnicos.

Madagascar 3 (Madagascar 3: Europe`s most wanted) avança como o episódio forte da franquia. Após duas semanas no topo das bilheterias, perdeu a posição para Valente, mas permanece como a animação mais assistida de 2012.

A grande decepção ficou por conta de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: vampire hunter) de Timur Bekmambetov. O realizador de O Procurado (wanted) viu seu novo trabalho com renda inferior aos 17 milhões, lembrando que da primeira para a segunda semana os valores costumam cair em 50%. Provavelmente os 70 milhões investidos passarão longe dos bolsos de seus investidores.


21 de junho de 2012

VENDREDI SOIR


O cinema francês é recheado de diálogos. A impressão que se tem, assistindo à maior parte dos filmes vindos de lá, é a de que tudo ruma para a filosofia, ou para o amor. Um copo vazio não é somente um copo vazio, mas um universo repleto de angústia. Ou pode também significar uma mulher submissa a regras sociais buscando sua verdadeira paixão.

Ou não.

Brincadeiras à parte, o aspecto dos diálogos é verdadeiro. Mesmo os grandes mestres, Renoir, Godard, Truffaut, Resnais, Rohmer, admitiam uma aderência cultural bastante precisa. Ou seja: definir as características marcantes do povo francês, um povo que dialoga continuamente.

Talvez por esta razão o cinema de Claire Denis seja tão curioso.

Vendredi Soir (sem título em português) é, possivelmente, sua obra-prima e talvez o melhor exemplo de sua abordagem.

Mesclando lirismo e imagens repletas de musicalidade, a trama caminha entre poesia e sinfonia e dá igual importância a personagens e cenários. Já em sua introdução, Paris é apresentada com a Torre Eiffel ao fundo. No entanto, o visual não se assemelha ao de um cartão postal. As casas, os fios e a sujeira das paredes praticamente ofuscam o símbolo máximo da cidade luz. A névoa permite apenas uma silhueta da Torre, tornando-a praticamente insignificante diante do quadro como um todo. É uma visão de cima, mas em sua elevação, praticamente horizontal. Vagarosamente as imagens desconstroem nossa idéia do que seria a capital francesa.

Este elemento é essencial.

O filme conta a história de Laure, uma mulher próxima dos quarenta anos que está empacotando seus pertencentes para ir morar com seu namorado. É noite de Sexta-feira e ela é convidada para jantar com um casal de amigos. Há uma greve geral no transporte público e o trânsito está um caos. Está frio. Ela decide dar carona a um homem, uma sugestão da rádio local para acomodar transeuntes nesta situação atípica.

Utilizando uma sensibilidade bastante aguda, a diretora rege o início de um relacionamento entre dois estranhos nesta noite particularmente incomum. Os diálogos são mínimos, os gestos e as expressões nos dizem tudo. Como escreveu Robert McKee: “Não conte, mostre”.

Devo dizer que ele tem razão.

O manuseio das imagens e a belíssima trilha sonora transportam os personagens a um universo mágico. Suas reações nos revelam o aspecto maravilhoso, distante do melodramático, citado primeiramente por Aristóteles.

A sequência onde Laure sai de seu quarto para buscar um cinzeiro é particularmente tocante. Existe muito em comum entre estes dois novos amantes.

Pelo menos pelo espaço de um dia, o mundo parou de girar para contemplar o amor dos dois.

Infelizmente, minha cópia foi, digamos, adquirida de forma genérica. Talvez se os distribuidores brasileiros tivessem o mínimo de preocupação em tentar abranger o gosto do público a situação das videolocadoras não estivesse tão caótica.

Das videolocadoras e do cinema nacional.

Pelo menos dos filmes que estréiam sem nosso conhecimento.


19 de junho de 2012

THE MASTER - NOVO TRAILER


Às vezes eu me repito.

Não tanto quanto se repetem os filmes de ação ou as comédias românticas, mas certamente escrevo mais que o necessário sobre determinados filmes. Mais e muitas vezes. Django Livre (Django unchained) de Quentin Tarantino, por exemplo, recebeu três colunas. O Cavaleiro das Trevas Ressurge (the dark knight rises) e Os Vingadores (the avengers) outras duas, assim como Moonrise Kingdom.

Talvez exista um demasiado cinismo de minha parte, mas eu espero cada vez menos da maior parte das produções e cada vez mais de um seleto grupo. Um dos realizadores que encabeça este grupo é Paul Thomas Anderson.

The Master (idem) foi citado neste blog em outras duas ocasiões. O primeiro trailer deixava claro que parte da espinha dorsal narrativa se daria sobre um evento passado o qual o protagonista não recorda. Mais do que isso: aparentemente ele não receberia esta informação de presente, mas teria de batalhar por ela. Ou seja, o espectador sabe menos que os próprios personagens, elemento típico de uma tragédia.

O fator curioso deste segundo trailer (disponibilizado hoje) é tentar encontrar um gancho que o una ao anterior. O personagem que dá origem ao título, interpretado por Philip Seymour Hoffman, é apresentado. No entanto, o único elemento em comum é Joaquin Phoenix, o protagonista que não se recorda do evento citado.

Poucas vezes um filme deste porte recebeu uma divulgação tão original.

Vale à pena assistir algumas vezes. Tanto a trilha quanto a linguagem adotada merecem determinada atenção.

Abaixo deixo o link dos dois trailers.

http://www.imdb.com/title/tt1560747/videogallery

18 de junho de 2012

MOONRISE KINGDOM


Muitas pessoas não entendem como Wes Anderson consegue filmar.

Não pelo aspecto técnico, afinal, é um grande realizador. Poucos diretores utilizam cada centímetro do fotograma de forma tão precisa quanto ele.

Também não pela qualidade de seus trabalhos. É querido pela crítica e tem seu público fiel. Seleto, mas entusiasta.

O fato é que seus filmes, pelo menos em termos de bilheteria, nunca rendem o suficiente para fazer valer um investimento. Existem vendas de Blu-Ray e DVD, os contratos televisivos (das emissoras fechadas e abertas), que, possivelmente, devem cobrir os custos.

De qualquer maneira, fico feliz que ele consiga finalizar uma obra a cada dois anos.

Moonrise Kingdom, ainda sem título em português e sem data de estréia no Brasil, está na lista dos dez mais assistidos há três semanas. Sempre em posições modestas, mas é um ganho. Surpresas como Cisne Negro (black swan) e Meia Noite em Paris (midnight in Paris), disputaram posições com superproduções e, em determinadas situações, estiveram à frente.

Eu creio que hoje, existam duas curiosas novas vertentes no cinema. A Europa praticamente dobrou seu público em filmes da linha Velozes e Furiosos (the fast and the furious) e Piratas do Caribe (pirates of the Caribbean). Os EUA perderam espectadores neste quesito, mas compensam em produções modestas de grande valor artístico.

Uma reviravolta curiosa que pode demonstrar a força e a qualidade do cinema independente norte americano.