12 de abril de 2012

DJANGO UNCHAINED


 
Quentin Tarantino é único. Pelo menos, é o único cineasta do mundo que escreve diálogos, às vezes de forma nonsense, às vezes irrelevantes, às vezes cotidianos, todos de longa duração, e agrada crítica e público dos quatro cantos do planeta. É um feito raro, convenhamos.

Pulp Fiction -  tempo de violência (pulp fiction) apresenta uma narrativa bastante interessante, mas são os diálogos e o carisma dos personagens que cativam a audiência. Além disso, o realizador é um expert em utilizar a violência gráfica de forma extremamente útil ao conteúdo e, por muitas vezes, até sob uma perspectiva engraçada.

A violência visual é uma arte sutil, fato que a geração movida a Jogos Mortais (Saw) não sabe apreciar, ou identificar.

Apesar da sotisficação do genial Bastardos Inglórios (inglorious basterds) a origem de Tarantino está no trash, no cinema de baixo orçamento. No Brasil, seria um adepto da Boca do Lixo, movimento cinematográfico que prometo me aprofundar no futuro.

O roteiro de Um Drink no Inferno (from dusk till dawn), cuja direção é de Robert Rodriguez (outro fã do gênero), é um bom exemplo.

O projeto, que novamente envolveu Rodriguez, Grindhouse, onde o episódio À Prova de Morte (death proof) surgiu pelas mãos de Tarantino, é outro exemplo.

O próprio Kill Bill, desconsiderando o capricho na produção e nos efeitos visuais (além da belíssima fotografia) é um terceiro, e talvez o melhor dos exemplos.

Muito do que se vê em Cães de Aluguel (reservoir dogs) e no já citado Bastardos Inglórios provém do cinema trash, mas poderíamos passar horas discutindo este assunto.

Provavelmente não chegaríamos à conclusão alguma, mas melhor que assistir aos diálogos de Quentin Tarantino é discutir sobre eles. Conversa de botequim, como faziam os cineastas da Boca do Lixo.

Toda esta introdução serviu para dizer que o pôster de seu novo longa-metragem, Django Unchained (ainda sem título em português), que deve ser lançado no final deste ano, foi disponibilizado. Tarantino costuma fazer intervalos longos entre seus filmes, por isso intensificam as expectativas quando lançados.

A trama, um western spaghetti (aproximadamente um trash dos bangue-bangues, para quem desconhece o gênero), conta a história de Django (Jamie Foxx), um escravo que recebe sua liberdade ao término da guerra civil norte americana. Daí a palavra unchained, na tradução livre, “desacorrentado”. Sob a tutela do Dr. King Schultz (Christoph Waltz), um perigoso caçador de recompensas, Django decide cruzar o país para libertar sua esposa das garras de um cruel latifundiário. Não li nenhuma citação ou referência sobre o faroeste Django (idem) de 1966.

Tarantino não é um plagiador, mas as referências de suas obras tornam-se até mesmo homenagens a grandes realizadores, na maioria das vezes por filmes ignorados pelo grande público. O Grande Golpe (the killing) de Stanley Kubrick (esse, um gigante) foi claramente a grande fonte de inspiração para Cães de Aluguel. O Expresso Blindado da S.S Nazista (quel maledetto treno blindato), chamado em inglês de Inglorious Bastards, acendeu a faísca para Bastardos Inglórios. As referências de Kill Bill são tantas que poderiam preencher uma tese de doutorado.

Mas como eu disse anteriormente, Tarantino não é um plagiador. Longe disso. Como artista, ele segue o código mais antigo, surgido talvez no berço do teatro: tudo já foi feito, mas tudo, também, pode ser modificado.

Por suas mãos, normalmente para melhor.

2 comentários:

  1. Isso aí, Zé... gostei do final "teatral", rs. A frase de Bertolt Brecht, dramaturgo moderno, que também Tarantino deve adorar por várias questões de dialética e distanciamento (quando a plateia percebe que está vendo uma peça, ou seja, o ator fala diretamente para a plateia, quebrando a "ilusão" teatral), diz: "O novo se esconde no velho". Parabéns pela análise.

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  2. Também sou fã do Brecht e, obviamente, do Tarantino. Obrigado pelos elogios. Quando souber mais sobre o filme acrescento na análise. Espero que ele não esteja lançando no final deste ano só para concorrer ao Oscar. São tão poucos que sobraram com alguma sobriedade nos EUA...

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