1 de maio de 2012

HOMENS E DEUSES


Eram os Deuses Astronautas? (erinnerungen an die zukunft?). Este é o título de um curioso documentário alemão lançado em 1970. A abordagem do realizador é bastante simples: seres vindos do céu e trazendo consigo conhecimentos e tecnologia além de nossa compreensão. Seriam Deuses? Poderiam ser, por que não? A concepção original em bastante se assemelha a esta premissa. Na Grécia, Deuses e homens interagiam. Inclusive, parte dos heróis e dos mitos têm sua origem entre os mortais e os imortais: são os semideuses. A relação dos seres humanos com as chamadas divindades é quase tão antiga quanto nossa própria existência.

O conceito de fé, possivelmente, é ainda anterior à criação do Deus em si.

O surgimento da religião e principalmente do extremismo religioso infectaram as crenças em sua origem mais pura. Divididos em clãs e, na maior parte do tempo, estudando fenômenos semelhantes, as nuances e interpretações resultaram em hostilidade. No fundo, os rituais, mitos e arquétipos são basicamente idênticos. Os objetos que os diferem, como bem analisou Jung a respeito do inconsciente coletivo, significam, em sua totalidade, a mesma coisa.

Se esta foi a idéia do diretor de Homens e Deuses (des hommes et des Dieux) seria demasiado pretensioso de minha parte em afirmar. Mas foi assim que eu absorvi este belo filme repleto de momentos sublimes.

Baseado em uma história real, estamos diante de oito monges beneditinos de origem francesa que situam seu retiro em uma comunidade pobre da Argélia. O grupo entende bem as necessidades da pequena população e procura auxiliá-los de forma humana, não espiritual. Fundamentalistas religiosos começam a cometer atrocidades isoladas em áreas próximas e o próprio governo local exprime o seu desejo de que os monges deixem o país. Os representantes do estado entendem que, como a colonização francesa na Argélia é tida como uma das principais causas de suas dificuldades sociais e econômicas, os extremistas poderiam provocar um incidente no mosteiro como ato de vingança ou exemplo. E então, surge o verdadeiro tema do filme: ficar ou partir?

Como dito: ajuda humana, não espiritual. Os monges mantém sua religiosidade dentro de suas paredes. Quem são eles? O que os move? O que os fortalece? A fé? A certeza? A rotina?

As dúvidas são expostas em belos diálogos frisando, principalmente, que a idade, a experiência e a vivência, não são artifícios infalíveis diante dos medos e das diversas consequências internas e externas que uma decisão faz florescer.

Aqui, ao contrário dos mitos gregos, algo torna-se bastante explícito: são todos homens em busca de seus Deuses. Da aceitação? Ou meramente da existência? A fé, quase sempre inabalável, apenas fortifica o fato de que estamos todos à mercê do inesperado e do inevitável. Mas nem por isso nossos princípios devem ser desvalorizados. Em especial se eles podem ser ligados a um bem comum.

Por fim, no momento de decidir, um dos monges diz a seguinte frase: “As flores não mudam seu lugar no jardim à procura dos raios de sol. Deus as fecunda onde quer que estejam”.

Deixo para que vocês deduzam o que se seguirá.


Nenhum comentário:

Postar um comentário