Todo
mundo conhece a tragédia ocorrida em Columbine. Este blog não tem o intuito de abordar nenhum tema de forma
sensacionalista, por isso não vou resumir os fatos ocorridos. Na ocasião, a
mídia focou sua abordagem nos sobreviventes, em suas famílias e,
principalmente, nas famílias das vítimas fatais. Estrutura óbvia.
Mas
e os pais dos garotos que cometeram tamanha barbárie? O que aconteceu em suas
vidas? Suas relações dentro da comunidade? Seu dia-a-dia, no trabalho, o
relacionamento com os pais de outros alunos... Tornaram-se vítimas? Culpados? Foram
alvos de compaixão ou de ódio?
Esta
parece ser a premissa de Precisamos Falar
Sobre o Kevin (we need to talk about
Kevin). É um ponto de partida interessante. Controverso, nebuloso e
polêmico. Mistura fatores externos e conflitos internos bastante complexos.
Para
entender esta relação, no entanto, devemos partir do ponto de vista de um
destes personagens. Aqui, o fato é totalmente fictício: um garoto de dezesseis
anos (Kevin) entra em sua escola e passa a atirar em seus colegas a esmo. Mata alguns,
fere outros tantos e provoca pânico generalizado. Parecido com Columbine. A diferença
é que se trata de apenas um jovem e ele não comete suicídio após o feito.
O
personagem escolhido como foco desta narrativa é sua mãe, Eva. Ela será o
centro de todo o desenvolvimento dramático.
Voltamos
no tempo para entender: quem é esse rapaz? Quem é sua mãe? A princípio tudo se
torna bastante claro: é um relacionamento tempestuoso. Kevin, desde o berço,
torna-se o símbolo da destruição da liberdade de Eva. Posteriormente, ele toma
a mãe como alvo de um ódio incondicional. O conflito se intensifica já que
Kevin nutre um relacionamento bastante carinhoso (e artificial) com o pai. Não é
a primeira nem será a última família a ter este tipo de problema. Aliás, bastante
comum de uma maneira geral.
O
curioso é que, após o rapaz cometer tal atrocidade, sua mãe visita-o na cadeia
e demonstra uma compaixão antes inexistente.
Mudamos
o foco: a catarse faz aflorar o sentimento contido. Outro tema bastante
interessante.
Mas
é neste ponto que o filme desanda.
Alguns
teóricos afirmam que todas as sequências necessitam de um conflito para
tornaram-se interessantes. O roteirista levou este conceito a sério. Mas ele se
esqueceu de relevar um fato: este conflito precisa ser complementar ou levantar
um aspecto até então não explorado. Ele não deve se repetir cena a cena. É isso
o que acontece. Todas as situações iniciam e terminam da mesma forma
intensificando o mesmo princípio. Alguns simbolismos, inclusive, são tão óbvios
que chegam a insultar a inteligência do espectador.
Ao
final, as razões que levam Kevin a pôr em prática o massacre são tão banais que
se tornam irrelevantes. Se este acúmulo de clichês é o suficiente para incitar
a ira de um psicopata, deixá-la sem explicação teria um impacto ainda mais
intenso e honesto. A falta de um motivo racional levaria o medo a seu ápice. Seria
uma solução simples, mas funcional.
Alfred
Hitchcok disse certa vez: “Faça com que o vilão cative o público e você terá um
bom filme”. Ele estava certo. Aqui, no entanto, os personagens são pálidos e
inexpressivos e encontram-se aquém de nossa importância. Quando não ocorre esta
conexão com os conflitos internos destes personagens, qualquer ação torna-se
indiferente. Vê-los cometer um assassinato ou ganhar na loteria resulta em um
impacto semelhante: a mera sensação de que nada de importante ocorreu.
No
início do filme, a casa de Eva sofre o ataque de arruaceiros que mancham suas
paredes de vermelho. O símbolo é bastante óbvio. As passagens de cena a mostram
esfregando e pintando na tentativa de apagar as manchas. Mas a metáfora é
clara: suas mãos estarão sujas para todo o sempre. Nada que ela faça será capaz
de limpar este rastro de sangue. Ela está condenada.
Assim
também é o cinema: você pode assistir a um filme repetidas vezes. Pode montá-lo,
remontá-lo, excluir, incluir, modificar a trilha, a ordem, inserir efeitos,
trabalhar a intensidade de cor, polir, ilustrar... Enfim. São centenas, talvez
milhares de opções. Deve-se levar em conta, no entanto, que se o conteúdo for
vazio, você jamais encontrará artimanhas suficientes para preenchê-lo.
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