9 de maio de 2012

CONTOS DA LUA VAGA


Quando Rashomon (rashômon) de Akira Kurosawa atravessou a Europa sendo exibido em festivais e terminou sua epopéia na América do Norte vencendo o Oscar de filme estrangeiro o ocidente reabriu seus olhos para o cinema oriental.

Neste início dos anos 50 Hollywood estava engessada. Presos a regras e restrições impostas há duas décadas, os cineastas reciclavam ao invés de criar. Épicos e faroestes soavam como refilmagens de si mesmos. As únicas obras relevantes provinham de realizadores consagrados há anos como John Huston, Howard Hawks, Billy Wilder, John Ford, Alfred Hitchcock, Orson Welles, entre alguns poucos. Posteriormente a revista francesa Cahiers Du Cinema tentaria definir a importância destes nomes, dando início à política do autor.

Possivelmente o impacto da guerra, principalmente na Europa e no Japão, resultou em uma geração de artistas famintos por novidades. A Nouvelle Vauge estava para surgir, avassaladora. Bergman, Antonioni e Fellini davam seus primeiros passos, apesar de ainda não terem definido por completo o toque pessoal que lhes faria objeto de estudo até os dias de hoje. A Europa certamente dominaria o cenário no início dos anos 60. Uma década antes, no entanto, o cinema japonês abriu espaço para este novo universo.

Kurosawa, Shôhei Imamura, Yasujirô Ozu e Kenji Mizoguchi foram seus principais representantes.

A Velha Hollywood teria uma pequena parcela de importância neste início, em especial pelas mãos de Nicholas Ray, John Cassavetes, James Dean e Marlon Brando. Rebeldes que redefiniram o estilo e quebraram alguns dogmas.

Ao fazer um comparativo, no entanto, surgem alguns pontos interessantes a serem destacados. Um bom exemplo é Contos da Lua Vaga (ugetsu monogatari) de Mizoguchi. Não só o filme apresenta qualidades técnicas (a fotografia é extremamente atual) e um ritmo de linguagem que deixariam muitos profissionais boquiabertos mesmo nos dias de hoje, como os atores demonstram-se muito mais à vontade diante das câmeras que os grandes nomes de Hollywood. Mesmo que, e isso surge da própria escola japonesa, alguns gestos e entonações tenham a tendência de rumar para um leve exagero. É um filme à frente de seu tempo. Muito além do que podiam prever os grandes produtores em solo norte-americano, perdidos diante da ameaça que se tornaria a televisão.

A história, apesar de ter parte de seu contexto enraizada na cultura do próprio país, toca o espectador pelo fato de ser desenvolvida sobre temas universais como cobiça, vaidade, medo, amor e arrependimento. Ao final, somos apenas marionetes no teatro do acaso.

Tudo isso dois anos antes de Juventude Transviada (rebel without a cause) revelar James Dean, o grande símbolo do anti-herói, para o mundo.

Certamente o cinema asiático e europeu causaram mudanças drásticas e irreversíveis na maneira como Hollywood compreendia o que significa fazer um filme.

Desta forma devemos dar méritos aos norte-americanos. Quando eles se vêem diante de algo novo, passam a explorá-lo. Da forma boa e ruim. Explorá-lo monetariamente, mas também como linguagem. Eles aprendem com o resto do mundo, mesmo não dando o devido crédito em grande parte das vezes. Apesar da maioria dos filmes saídos de seus estúdios terem apenas o intuito de tornarem-se sucessos comerciais (trata-se de uma indústria), as obras mais significativas provêm de lá.

Basta fazer uma lista de seus filmes favoritos e comparar. Lembrem-se de que, apesar de parecer um dado incorreto, produz-se mais na Europa que nos EUA.

O que ocorre é simples: somente o que há de melhor na Europa adentra nossas salas de cinema. O que é feito em Hollywood, adentra sem distinção.


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