22 de maio de 2012

TRAGÉDIA/COMÉDIA


“Talvez eu não seja apenas o vizinho ao lado”.

Está é a frase estampada na capa da primeira temporada de Dexter (idem). Quem conhece o personagem, sabe que o subtexto chega a ser quase cômico.

O quê significa tragédia?

Não são as notícias do Jornal Nacional. Obviamente, associamos diretamente a palavra tragédia e desgraça. É um erro comum.

As manchetes televisivas identificam um lado bom e um lado ruim. O bandido é o mal, a vítima é o bem. O bandido é preso, os mocinhos triunfam, a justiça é feita, o mundo faz sentido. Apenas para citar um exemplo simples.

Imaginem se um repórter cobre um crime tenebroso e diz ao final da reportagem: “Um ato inumano. No entanto, sob determinadas circunstâncias, qualquer um poderia fazer o mesmo”.

Poderíamos? Impossível. Ou não?

Este mal estar é o verdadeiro resultado da tragédia. Não a repulsa à violência gratuita, mas cogitar a possibilidade de que o caos é quem reina na natureza.

Passamos nossa vida em busca do cosmos. De um sentido. O além-vida poderia ser esta razão. Existe algo que dá continuidade a uma existência muitas vezes questionada.

A tragédia caminha na direção oposta.

Não há cosmos, apenas caos.

Apenas uma aleatoriedade. Forças incompreensíveis capazes de criar e destruir. Não há conclusão. Abre-se um abismo sem saída e os personagens mergulham em sua própria danação.

Pode parecer trágico. E é. Estes personagens estão além do bem e do mal. Reinam em um universo que consome a si próprio. Não é por acaso que obras do gênero, em sua maioria, terminam na mais pura desgraça.

Agora é necessário pensar: e a comédia? A comédia é engraçada. Faz-nos rir. Talvez. Mas gosto da frase de Chaplin: “Vista de perto, a vida é tragédia. Vista de longe, é comédia”.

Chaplin tinha razão. Os personagens da boa comédia vivem todas as dificuldades possíveis, são torturados pelo mundo, humilhados pela rotina, destruídos por sua auto-estima. Mas e daí? Ninguém disse que seria fácil. E se não há uma recompensa, termino com uma frase de Woody Allen em Hannah e suas Irmãs (Hannah and her sisters): “Talvez nossa esperança seja um mero fiapo. Algo fino demais para se sustentar. Mas devemos agarrar com força, afinal, mesmo que nossa passagem seja única, a vida não é tão aborrecida assim”.

Certamente que não.


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