1 de junho de 2012

JOHNNY VAI À GUERRA


Imagine estar cego, surdo e mudo. Ter seus olhos, orelhas, dentes, maxilar, braços e pernas arrancados. Passar seus dias, nestas condições, servindo como experimento médico. Ser escravo da mente, sã, de suas memórias e sentir o que se passa à sua volta, sem poder reagir. Imagine que os médicos ao seu redor têm a certeza de que você sofreu danos cerebrais e que nada sente, nada percebe, nada sabe. Seu único movimento, balançar a cabeça, é visto como involuntário. Nem mesmo o suicídio é uma opção.

Esta tragédia absoluta é a história de Johnny Vai à Guerra (Johnny got his gun), novela de Dalton Trumbo que posteriormente foi adaptada por ele mesmo e tornou-se um roteiro cinematográfico que, curiosamente, foi dirigido também por ele.

Seu único trabalho como diretor. Uma obra-prima como poucas.

Conhecendo a história do realizador fica bastante compreensível o significado por trás deste filme notável.

Roteirista de sucesso, Trumbo foi perseguido pelo Macarthismo e adentrou a lista negra de Hollywood. Como bem observou Jean Tulard, deve-se a Kirk Douglas seu retorno ao cinema quase treze anos depois. Pelo menos, utilizando seu nome verdadeiro.

Durante este período de suposta inatividade, Trumbo escreveu diversos roteiros e inclusive venceu dois Oscar por A Princesa e o Plebeu (roman holiday) e Arenas Sangrentas (the brave one), ambos creditados a outros cineastas. Posteriormente, graças a Douglas, Trumbo foi identificado como o verdadeiro autor.

Johnny é Trumbo. O homem que foi calado, impedido de escutar, de observar e de trabalhar diante de uma sociedade cuja paranóia amputou sua lógica e sua sanidade. O homem que, em 1971, teve coragem de criar o personagem que mostra, afinal, que somos todos experimentos de uma ganância monstruosa e irrefreável. Que somos todos o resultado de uma mentalidade à busca de sua própria extinção.

Certa vez, Carl Jung escreveu: “O homem saudável não tortura os outros – geralmente são os torturados que se tornam torturadores”.

Resta saber se Trumbo deve ser lembrado por seu talento ou por sua coragem.  


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