12 de junho de 2012

AS IDAS DE MARÇO


Todos os galãs são carismáticos, cada um à sua própria maneira.

É o caso de Tom Cruise e de Harrison Ford, o eterno Indiana Jones, intacto há mais de três décadas. Existe o lado selvagem muito bem representado por Marlon Brando e James Dean, o lado tímido de Dustin Hoffman, o lado ativista de Paul Newman, a insanidade de Jack Nicholson e o multitalentoso Warren Beatty.

Como eu disse: cada um à sua maneira.

George Clooney é diferente.

Surgiu em meio a uma série de grande sucesso, conhecida por aqui como Plantão Médico (E.R). Nascer bonito pode ser proveitoso. Muitos fãs e alguns milhões depois ele, em pouco, tempo tinha o controle de sua carreira. Curiosamente, parece que ninguém apostava nisso.

Imagine-se como um galã televisivo de uma série de sucesso. Surge uma proposta no mundo do cinema. Qual a opção óbvia? Uma superprodução ao estilo James Bond? Uma comédia romântica segura? Algo de tom ecológico ou das preocupações ambientais do momento? Contra toda a lógica, Clooney aliou-se a Quentin Tarantino e Robert Rodriguez no clássico cult Um Drinque no Inferno (from dusk till dawn). Esta decisão seria o suficiente para mostrar seu diferencial.

Novamente contra a obviedade, foi além.

Entre tolices, que supostamente lhe garantiriam segurança financeira para agir da forma que bem entendesse, como Batman & Robin (idem) e O Pacificador (the peacemaker), ele, em pouco mais de uma década, trabalhou com realizadores como Terrence Malick, David O. Russell, Wes Anderson, Alexander Payne, fez uma ponta no longa-metragem South Park – Maior, Melhor e Sem Cortes (South Park – bigger, longer and uncut), talvez a animação mais controversa da história da televisão norte americana, tornou-se figura carimbada nos filmes dos irmãos Coen e de Steven Soderbergh, venceu um Oscar e aderiu a causas políticas mundo afora.

Decisões, quase sempre acertadas, tomadas em momentos corretos.

Timing é tudo.

Isso diferencia Clooney dos restantes. A maioria dos galãs e das grandes celebridades passa por um período de depressão, abuso de drogas, relacionamentos tempestuosos e brigas com a imprensa. Polêmicas em geral.

Não Clooney. Ele atendeu a todas as expectativas depositadas em seu talento. Foi além e, por esta razão, triunfou.

Arriscou-se como produtor, roteirista, diretor, enfim, um realizador completo. Dirigiu a si mesmo e recebeu os louros pelo excepcional Boa Noite e Boa Sorte (good night and, good luck).

Esta introdução foi feita para um breve comentário sobre sua mais recente obra: Tudo Pelo Poder (the ides of March).

Escrever sobre política é um risco.

Digo isso porque eu acredito honestamente que ninguém, e friso NINGUÉM sabe como funciona a política de lugar algum no mundo. Posso estar sendo um tolo em minha afirmação, mas creio piamente neste fato. Aliás, acredito que não exista um único ser humano que consiga definir de forma direta o que significa política. Pelo menos nos dias de hoje.

Mas Clooney aborda o filme da maneira correta, utilizando um artefato conhecido de todos: o âmago do ser humano.

O elenco, escolhido a dedo (em especial o fenomenal Philip Seymour Hoffman), representa de maneira concisa e sem rodeios que tudo não passa de um grande circo. Que as eleições, os debates, as expectativas, são apenas episódios isolados de um picadeiro. Infelizmente, neste quesito, os palhaços estão na platéia.

O filme não busca um tom sarcástico ou irônico. Muito pelo contrário, a abordagem é bastante madura e os diálogos, artifício típico do cinema clássico, estão meticulosamente construídos em prol da história. Afinal, o cinema, entre outras coisas, é a arte de se contar uma boa história.

Neste quesito, Clooney se diferencia dos demais.

Ele próprio é a boa história.


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